unimed_pafonte: O Globo

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) afirma que ainda não há nenhuma posição tomada que determine a liquidação extrajudicial da Unimed-Rio, apesar da negativa de aporte por parte dos cooperados agravar a situação da empresa. Segundo o colunista Ancelmo Gois, a agência reguladora vai notificar a cooperativa a apresentar “imediatamente uma outra forma de capitalização ou vai pedir a liquidação da Unimed-Rio.”

Na assembleia realizada nesta terça-feira, dia 27, que se estendeu das 20h até a 1h desta quarta-feira, 2.340 cooperados discutiram a proposta feita pela atual direção de fazer um aporte de R$ 500 milhões partilhado pelos médicos da cooperativa, que não foi aprovada.

— É difícil chegar a um consenso ao debater com milhares pessoas. Os cooperados não se recusam a investir, mas defendem que o aporte seja feito devagar. Além disso, pelas dificuldades devido aos erros cometidos pela diretoria anterior, todos têm medo de fazer o aporte e, ainda assim, não resolver o problema — conta um cooperado que prefere não se identificar.

Aproximadamente metade desse aporte seria relativo ao pagamento de despesas gerais imediatas, como com fornecedores e com a rede credenciada. O restante é relativo a uma dívida tributária, que já vem sendo dobrada dos cooperados, com desconto de 25% a 30% por mês da produção de cada um. Esses recursos serão usados para quitar débitos de Imposto Sobre Serviços (ISS). A operadora explicou que pagou os tributos em nome dos associados entre 2012 e 2015, e que foi aprovado anteriormente em assembleia o ressarcimento dos valores pelos cooperados até que o montante seja equalizado.

Em nota, a Unimed-Rio informa que, na assembleia dessa terça-feira, a maioria dos médicos presentes aprovou o desconto de 30% da produção médica como forma de ajudar no processo de recuperação da Unimed-Rio. Em paralelo, acrescenta o comunicado, a cooperativa está avaliando outras opções para viabilizar a entrada de novos recursos. No entanto, a lei das cooperativas não permite que o aporte seja feito por investidor externo.

Líder do movimento 3ª Via, de oposição, a médica Ana Clara Sande, informou que o desconto de 30% feito mensalmente na produção de cada cooperado já aportou, em três meses, R$ 37 milhões para a cooperativa e faz com que a contribuição dos sócios seja proporcional. A verdade é que a grande maioria dos cooperados não tem condições de aportar mais recursos.

— Vamos aguardar a decisão da ANS em relação à proposta aprovada na assembleia de continuar com o desconto de 30%. Esperamos que a atual diretoria corrija o equívoco político de ter convocando uma assembleia com 3.500 cooperados e não discutir pontos que poderiam aportar para a Unimed-Rio de R$ 750 milhões a R$ 800 milhões com a venda de ativos, como as sedes da Barra, Centro, Benfica e o hospital. A atual diretoria só apresentou uma proposta de aporte que castiga ainda mais o cooperado.

Segundo a médica, está acontecendo o que foi alertado há muito tempo: nenhuma empresa consegue saber o tamanho de sua dívida sem aprovar as contas por dois anos seguidos, 2014 e 2015, no caso.

— É preciso saber o tamanho real da dívida para se buscar situações concretas— concluiu Ana Clara.

Atendimento aos usuários

Na semana passada, o diretor Financeiro da empresa, William Galvão, informou que tinha fechado acordo com prestadores de serviços, como a Casa de Saúde São José, e a Federação do Estado do Rio das Unimeds para garantir o atendimento aos cerca de um milhão de usuários da cooperativa. Pelo acordo, os valores presentes serão pagos à vista e os anteriores em dez parcelas. Além disso, ele informou que havia sido feita uma redução no comissionamento das corretoras, como forma de ajuste.

— Todo mundo entende a situação da companhia e o fato de que todos estamos entrelaçados. Estamos reformulando a administração, o que está tornando-a mais efeciente e menos dispendiosa. Ganhamos o contrato com a Aeronáutica o que representa a entrada de imediato de oito a dez mil vidas — destacou Galvão, em entrevista na última quinta-feira, dia 22, sobre a nova rota da companhia

Sob direção fiscal da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) desde o ano passado, a Unimed-Rio tem um passivo (ou seja, dívidas e outros compromissos) que totalizam R$ 1,9 bilhão, já o ativo é de R$ 1 bilhão.

MPS E DEFENSORIAS SE REÚNEM COM ANS

Segundo Galvão, o aporte ajudaria a pagar parte da dívida e possibilitaria que a Unimed-Rio continue funcionando:

— Se houver um processo de liquidação, a dívida vai ser cobrada por inteiro e teremos que parar de operar. Mas não tenho dúvida de que a empresa é viável. Tem uma carteira de quase um milhão de vidas e receita anual de R$ 5 bilhões.

Segundo fontes próximas à empresa, depois do anúncio do risco de uma liquidação extrajudicial, alguns dos 5.400 cooperados já teriam procurado à empresa e se manifestado favoravelmente ao aporte.

Em entrevista publicada no último domingo, o presidente da ANS, José Carlos Abrahão, destacou a importância da cooperativa para toda a saúde suplementar e informou que o plano de recuperação ainda passava por ajuste, ressaltando que quanto mais o tempo passa, maior será o aperto necessário para reequilibrar a empresa.

Os Ministérios Públicos estadual e federal, a Defensoria Pública do Estado do Rio, que junto com a ANS, acompanham o processo de recuperação da empresa, devem se reunir com a agência reguladora na semana que vem para debater a situação da Unimed-Rio sem o aporte dos R$ 500 milhões pelos médicos.